Chegou três horas antes do início de um show do já internacionalmente reconhecido Bob Marley e sua lendária banda The Wailers, na Universidade de Los Angeles, em 25 de novembro de 1979. A paixão do jornalista californiano Roger Steffens pela música dos rastas da Jamaica data de 1973, quando adquiriu uma cópia de segunda mão do disco "Catch a Fire", de um tal Bob Marley. Sentado numa das primeiras cadeiras do auditório Pauley Pavillion com sua esposa, Roger reparou num figurão com dreadlocks sentado logo à sua frente. Teve certeza de que aquele cara estava com a banda, se não fosse um dos integrantes. Timidamente se apresentou e disse que gostaria de saber se a banda tocaria a música "Waiting In Vain", na qual havia um solo do guitarrista Junior Marvin que ele achava fascinante. O rasta perguntou com seu patois jamaicano carregado, “você quer conhecer Bob Marley?”, ao que Steffens respondeu gaguejando, “claro!”. Seguindo por um corredor, o jamaicano falou com uma gargalhada: “eu sou Junior Marvin!”.
Este primeiro contato com Bob Marley mudou a vida do então editor da revista "Rolling Stone" e fã incondicional de Rock and Roll. Roger Steffens acompanhou toda a turnê da banda pelos Estados Unidos em 1979, coletando informações, fotografias e entrevistas. Combinou inclusive de encontrar Bob Marley na Jamaica para escrever um livro. Apenas Marley sabia que aquele encontro jamais se concretizaria: estava sendo lentamente corroído pelo câncer que o mataria em maio de 1981.
Após a morte de Bob Marley, Roger Steffens passou a colecionar todo e qualquer artigo que se relacionasse à Jamaica e à Reggae Music, formando o maior acervo existente sobre o assunto. Os mais de 200.000 itens serão organizados em um museu na Jamaica pelo bilionário Michael Lee-Chin, presidente da companhia financeira canadense AIC Ltd, para quem foram vendidos. Certamente soa estranho que alguém tão apaixonado como Steffens resolva, da noite para o dia, vender todo seu acervo desta maneira.
Por água abaixo
O fato é que, em outubro de 1990, Roger se engajou em um projeto ambicioso: escrever a maior biografia já feita do único sobrevivente da banda original de Bob Marley, Bunny Wailer. Junto com outro jornalista, Leroy Pierson, Roger coletou mais de 64 horas de entrevistas de Bunny contando sua história e, conseqüentemente, a história do ritmo que saiu de uma ilhota caribenha para dominar o mundo. Tendo completado três capítulos, com quase 1.800 páginas escritas, Roger foi obrigado a abandonar o projeto. Não queria escrever o livro inteiro antes que Bunny revisasse aquilo que já estava escrito.
Bunny recebeu o texto no Colorado em setembro de 1998 e, segundo Steffens, nunca leu. Nas tentativas de compreender o porquê de tamanha negligência, o jornalista ficou três anos e meio sem obter uma resposta satisfatória. Até que, em um show de Bunny – no qual, diga-se de passagem, Bunny não apareceu –, o baterista Carl Ayton da banda Solomonic Reggaestra, o chamou de canto e disse: “Roger... Bunny nunca vai deixar você terminar este livro. Para conseguir os direitos autorais sobre a caixa 'Songs of Freedom', ele teve que prometer a Rita Marley (viúva de Bob) que o livro não seria publicado”.
Curiosamente, Rita Marley recentemente lançou sua própria versão da história num livro chamado "No Woman, No Cry – My Life With Bob Marley" (“Não chore, mulher – Minha vida com Bob Marley”). É sabido que a condução que Rita deu ao imenso espólio de seu marido não foi das mais honestas. Irritado com a falta de iniciativa de Bunny em relação a esta questão e com o lobby da senhora Marley, Roger abandonou o projeto que lhe consumiu 10 anos de vida, sem nenhum dinheiro, sem contrato e uma enorme frustração.
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