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Tuesday, January 22, 2008

"Familyman é o nome"

Por Gabriel Rocha Gaspar
Aston “Familyman” Barrett (baixista, arranjador e band leader de Bob Marley & The Wailers) a Radiola Urbana. Com uma fala calma e serena, no famoso patois pautado por passagens bíblicas, Familyman falou de um hotel de Oklahoma, de maneira peculiarmente jamaicana: “yeah man... (longa tragada) Familyman speaking”.

Como é continuar a passar a mensagem de Jah Rastafari-I depois de tantos anos da morte de Bob Marley?
A mensagem permanece, como sempre esteve, na música. Independente da alta tecnologia dos computadores e samplers. Nós trazemos a verdadeira orquestra do reggae, o nome de Jah Rastafari-I. Veja, o álbum "Exodus" foi eleito o álbum do século pela revista Time; é eterno, assim como a música e sua mensagem.

E você ainda não recebeu o reconhecimento que lhe é devido...
A família Marley me deve dinheiro. Nos últimos 23 anos, 4 meses e 11 dias, eles me devem dinheiro de direitos autorais, propaganda e shows. Rita Marley é um craven choke puppy (risos) ("Craven Choke Puppy" é uma música gravada por Bob Marley & The Wailers, em 1971, que fala sobre um cachorrinho fútil e ganancioso que acaba perdendo o osso, por estar sempre correndo atrás de algo maior) que não quer compartilhar as coisas como elas devem ser compartilhadas. Veja: eu não quero deixá-la sem nada. Um terço é o direito dela. Um terço era o direito do Bob em cima da música, e ele sabia e concordava com isso. Um terço para ele (que agora é dela por direito), um terço para mim, um terço para meu irmão, Carlton. Mas ela não quer dividir, quer ficar com tudo.

E com isso, lançamentos de faixas inéditas ficam cada vez mais esparsos...
Ela guarda milhares de gravações que nós fizemos com Bob nos estúdios da Tuff Gong, (selo montado por Bob Marley no final da década de 60, para prensar seus próprios álbuns ‘sem ter que se moldar aos grandes estúdios’, como Bob costumava dizer) lançando uma ou outra de vez em quando. Existem milhares com ela e algumas com a JAD Records (gravadora dos produtores Danny Sims e Arthur Jenkins, com o cantor norte-americano Johnny Nash, para a qual Bob gravou algumas faixas em 1970/71) que lança material inédito com uma freqüência bem maior do que a Tuff Gong Records.

A JAD lhe paga os direitos corretamente?
Sim, a cada lançamento da JAD, recebo minha participação nas vendas. Mas passa longe do que é meu por direito.

Você imaginava que teria essa briga, após a morte de Bob?
Eu sabia que quando Bob morresse, essa situação se configuraria. Pois a tentação do diabo é forte. Satã testou Jesus no deserto e Jesus resistiu; Rita Marley não. Foi fraca e se deixou corromper pelo dinheiro e pela Babilônia, como eu sabia que aconteceria.

Mas e com o resto da família Marley? Os Wailers chegaram a gravar com Julian Marley (filho de Bob), não?
Nós chegamos a gravar e produzir com ele. Fizemos um mega-contrato com a Virgin Records, no valor de US$ 1 milhão. Mas Rita Marley também não aceitou. Família Marley tem que gravar com família Marley, o dinheiro tem que ser todo para a família Marley. A música foi para o segundo plano e ele virou artista da Ghetto Youths (selo formado pelos herdeiros Stevie, Damian e Julian, vinculado à Bob Marley Music Inc., administrada por Rita). Rita Marley quer toda a figura pra ela, mas de Marley ela só tem o nome... Quer se aproveitar da situação e virar uma “mini-Mandela” (risos).

Como você conheceu Bob Marley, nos tempos de Upsetters?
No começo, a música nos uniu a Bob Marley. Tínhamos os Hippy Boys, depois os Upsetters (ambas bandas de estúdio do produtor Lee ‘Scratch’ Perry) e, por fim, os Wailers, com o aparecimento de Peter (Tosh), Bunny (Wailer) e Bob. E tudo aquilo era minha música. Minha música. Eu sou o arquiteto da reggae music. E por isso, Bob me procurou. Para ter a minha música ao seu lado. Rita quer tudo para ela. Não se pode tirar de um homem o trabalho de toda sua vida. Ela virou as costas para tudo o que nós passamos para o mundo. Nós, o povo de Jah, podemos fazer funcionar. Ela ignora essas palavras. É como Jah diz: “minhas sementes não devem sentar nas calçadas e implorar pelo pão.” Rita não prestou atenção a isso. Hoje, não consigo dar às minhas filhas uma educação de qualidade, simplesmente porque não tenho dinheiro; não tenho dinheiro nenhum. Ela roubou o meu dinheiro, a minha vida e a dignidade da minha família. Ela se curvou ao demônio.

Como ficaram Peter Tosh e Bunny Wailer (membros fundadores da banda, que partiram para suas carreiras-solo em 73) nessa história?
Peter e Bunny não fizeram parte disso tudo. Mas até eles ganharam em cima. Bunny ainda recebe pela gravações dos tempos dos Wailers. Mas nós cantamos canções de redenção, é tudo o que sempre tivemos. E fui eu quem inventei isso. Familyman. Familyman é o nome.

E as outras I-Threes (trio vocal que acompanhava os Wailers, do qual Rita fazia parte), Judy Mowatt e Marcia Griffiths? Não buscam sua fatia no bolo também?
Judy e Marcia? Não têm participação em nada. Imagina. Queriam nos anunciar como Bob Marley, The Wailers e The I-Threes. Nem o Bob topou um negócio desses. A Marcia nunca sequer compôs uma música. Judy Mowatt esqueceu de Jah Rastafari-I agora e canta gospel; nunca foi pivô da nossa revolução. (Em 2002, Mowatt anunciou sua conversão ao Cristianismo, pois sentia-se “espiritualmente desconfortável” na fé Rastafari).

Há alguma coisa que gostaria de dizer para o povo brasileiro?
Diga a todos no Brasil para virem ver o que é a verdadeira música roots, rock, reggae de Jah Rastafari-I. Show dos Wailers. A música de Familyman. Thanks. One Love.

Para maiores informações sobre a batalha jurídica de Aston por seus direitos, visite o site oficial da banda

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