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Sunday, May 27, 2007

BOB MARLEY, Rei do Reggae - Parte II

NINGUÉM SEGURA
O álbum “Catch a Fire” foi lançado em 1972. Era uma produção de primeira, que misturava algumas sessões gravadas na Jamaica e outras em Londres, e dava uma volta bem dada em tudo que os jamaicanos, de A a Z, tinham feito até então. O som dos Wailers ia mais longe do que o de Desmond Dekker, Alton Ellis, Jimmy Cliff e outros que já tinham levado sua música além dos limites da ilha.
Não demorou para que a Inglaterra desse ouvidos aos Wailers, primeiro nos subúrbios, depois entre os bacanas e enfim em algumas paradas de sucesso. No ano seguinte, saiu Burnin’, outra maravilha, que acabaria seduzindo Eric Clapton (ele gravou “I Shot the Sheriff” e se deu bem), os Rolling Stones (o disco Black and Blue teve sessões de gravação no Caribe, inclui um reggae de Eric Donaldson, “Cherry oh Baby”), Paul Simon e outros bambas. O disco marcou também o racha dos Wailers. Peter Tosh e Bunny Wailer pularam do barco, abrindo caminho para Marley. Que aí ninguém segurou mais.
Em 1974 foi a vez do álbum Natty Dread, o primeiro com a chancela Bob Marley & The Wailers. A banda, além dos irmãos Barret, trazia outros feras do reggae e o apoio vocal das três meninas – Rita Marley, Judy Mowatt e Marcia Griffiths. Era a química perfeita para a breve temporada no Lyceum de Londres, em 1975, que se transformou no álbum Live. Há quem tenha anotado, não sei onde, que esse foi um dos melhores momentos ao vivo da cena rock-pop de todos os tempos (ouça o disco e dê sua opinião).

O LEÃO NA ARENA

Mesmo içado a superstar e cidadão do mundo, Bob Marley passaria ainda boas temporadas na Jamaica. Sua vida mudara bastante. Agora ele tinha um bom carro – um BMW, que eram as iniciais de Bob Marley and The Wailers – e uma casa decente. Na verdade, quase um palácio. Mas entre mulheres e filhos, amigos e agregados, pedintes e malandros em geral, Marley acabou perdendo o controle das coisas, envolvendo-se com turmas barra-pesada e permitindo que seus protegidos cometessem enganos sob sua sombra.
Em seus últimos cinco anos de vida, Bob Marley lançou, em média, um disco por ano. Ganhou os estados Unidos, rodou o mundo fazendo shows, produziu artistas de que gostava e lançou as sementes dos Melody Makers – o grupo formado por Ziggy e outros de seus filhos e filhas. De passagem no Brasil em 1980, tomou todos os sucos naturais que encontrou pela frente, jogou bola no campo de Chico Buarque e deu as caras até em festinhas no Pão de Açúcar. Logo depois, na festa de independência do Zimbabwe, experimentou glórias de chefe de estado e foi aclamado como um santo.
Mas teve gente, bem antes, querendo vê-lo no céu. Aconteceu em 1976, no calor de mais uma campanha eleitoral na Jamaica. Marley foi convidado para fazer um show na Arena Nacional dos Heróis, uma festa sem política, mas com o apoio do governo. Ele aceitou. Dias depois, um grupo de pistoleiros invadiu sua casa abrindo fogo. Na confusão, bala pra todo lado, Rita Marley foi atingida na cabeça, o empresário Don Taylor quase morreu e Bob Marley levou apenas um tiro, que passou de raspão no peito e entrou fundo no braço.
Apesar dos ferimentos e do clima de terror, dois dias depois Bob Marley subiu ao palco e fez o show, conforme combinado. E o estádio, com 70 mil pessoas em transe, quase veio abaixo. E então ele desapareceu, sumiu da Jamaica, para esperar as coisas esfriarem. Sendo que esse ato foi a fonte inspiradora para a composição da música “Ambush in the Night”, que é uma bela canção.


A PASSAGEM

Em 1976, ele foi ferido com um tiro no que se acredita que tenha sido um ataque motivado por política, em meio a um clima de agitação que dominava a Jamaica na época, mas esta hipótese nunca foi provada.
No ano seguinte, Marley descobriu um ferimento no dedão do pé direito e pensou que tivesse sido causado durante uma partida de futebol. Mas um exame de rotina revelou que ele tinha uma forma de câncer de pele se desenvolvendo debaixo da unha.
Devido à sua fé, ele inicialmente recusou se tratar. Em 1980, se apresentou pela primeira vez na África e participou das celebrações pela independência do Zimbábue.
Mas ao fim daquele ano, durante uma série de concertos em Nova York, ele desmaiou e não conseguiu terminar o show, no dia seguinte desmaiou numa seção de jogging no Central Park. Procurou ajuda, mas então já era tarde, pois o câncer tinha se espalhado para o cérebro, os pulmões e o fígado.
Em seu último álbum, "Uprising", ele canta triste "Redemption Song", onde canta sozinho com sua guitarra. E então ele sucumbiu à doença. Magérrimo e com os cabelos curtos que em nada lembravam seus famosos dreadlocks, Marley morreu em 11 de maio de 1981.
Mas sua morte precoce lhe garantiu um lugar entre as lendárias personalidades da música popular que se destacaram no século 20, como Elvis Presley e Jim Morrison, e a eternidade, através de sua música e de sua figura estampada em milhares de camisetas e pôsteres em todo o mundo. Jovens, como eu, aprenderam muito com a música e o legado de Marley, sua visão de um mundo melhor sempre imperou em suas canções e suas atitudes, para os jamaicanos ele é um herói nacional, mas para mim ele é simplesmente Marley – O Eterno Rei do Reggae.

BARAFUNDA NOS TRIBUNAIS

Hoje, Bob Marley é mais conhecido do que quando estava vivo. Seus discos de maior sucesso são duas coletâneas, Legend e Natural Mystic, lançados bem depois de seus últimos suspiros. E foi também bem depois que os capítulos mais quentes de sua história vieram à tona. Sua herança material – estimada em quase 100 milhões de dólares -- foi responsável por uma barafunda nos tribunais, uma disputa que contaminou parentes, amigos, músicos, empresários, amigos e inimigos, e que, ao fim e ao cabo, revelou os bastidores de uma vida autêntica e cheia de emoções. Nem mesmo os melhores roteiristas de cinema conseguiriam fazer tão bem.
Bob Marley foi o primeiro superstar do Terceiro Mundo. E conseguiu isso sem fazer concessões, nem mesmo se vestindo como alguns negões americanos, que usavam roupas brilhantes e abusavam dos gestos exagerados. Com um jeito quieto, calças e camisas jeans surradas, o jamaicano tornou-se um mito deste século, cantando seu protesto meio amargo, meio doce, e todas aquelas lindas canções de amor. É por isso que aspirantes se aproximam e desistem, que os príncipes vêm e vão, e o rei do reggae não perde a coroa. E não adianta tentar, porque não dá certo. Bob Marley é Bob Marley.
Que a paz de Jah esteja com vocês!!!!

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