A morte do imperador da Etiópia, Hailé Selassié I, em 27 de agosto de 1975, parecia ser o golpe fatal no movimento rastafari. Para os rastas, ele era a encarnação de Deus, ou Jah, e deveria conduzir os negros do mundo inteiro `a redenção e `a vitória na luta contra a Babilônia.
O Jornal “Daily Gleaner” preconizava que Jah estava morto.
A forma esguia de Bob mal era visível à pouca luz emitida pelos escassos spots do estúdio de gravação de Harry J no número 10 da avenida Roosevelt em Kingston. Vestindo uma camisa de algodão marrom, calças de brim e requintadas botas de camurça, ele se postava de mãos nos quadris no meio do abarrotado estúdio de pé-direito alto. Uma delicada nuvem de fumaça subia de um spliff em sua mão, circundando-lhe a cabeça reclinada de onde pendiam os dreadlocks enquanto ele se concentrava. O relógio da parede marcava 10:30 de uma certa noite no mês de setembro de 1975.
As gravações para o disco Rastaman Vibration dos Wailers haviam sido deixadas de lado para permitir um projeto especial, de emergência. O engenheiro Sylvan Morris, um negro corpulento e solene, sentava-se envergado sobre a mesa de dezesseis canais no lado de lá do painel de vidro sujo que separava a cabine de controle do estúdio; ele pegou uma garrafa bojuda de Dragon e tomou um gole enquanto aguardava algum sinal para dar início à fita. Não se ouvia nada, exceto a deglutição de Sylvan, seguida de um arroto abafado.
Talvez tenham-se passado dois minutos até que Bob levantou a juba de Medusa. Ele colocou os fones de ouvido, deu uma tragada de encolher as bochechas no spliff e fez um aceno com a cabeça. Uma trilha instrumental que os Wailers tinham feito à tarde começou a jorrar dos gigantescos monitores pendurados acima da mesa de mixagem.
Havia um padrão de bateria, um baixo entorpecente pilotando a bateria, e uma guitarra rítmica em surdina. Bob deu um passo rápido em direção ao microfone e paralisou as dez pessoas que se amontoavam na cabine do engenheiro quando começou a cantar:
Selassie lives! Jah-Jah lives, children!
Selassié vive! Jah-Jah vive, crianças!
Jah lives! Jah-Jah lives!
Jah vive! Jah-Jah vive!
Fools sayin’ in dere beart,
Os tolos dizem de coração,
Rasta yar God is dead
Rasta, seu Deus está morto
But I&I know ever more
Mas eu, eu sei cada vez mais
Dreaded shall be dreaded and dread…’
Os dreads serão temidos e respeitados…
Os rostos de Family Man e Carly se congelaram num amplo sorriso beato que eles compartilharam com os outros presentes: Al Anderson; Lee Perry e sua esposa; Rita; Marcia Griffiths e sua amiga Judy Mowatt, ex-vocalista do grupo Gaylets e terceira integrante de um trio recém-formado chamado I-Threes – o novo grupo vocal de apoio dos Wailers; além de dois recentes acréscimos a estes, o organista Bernard “Touter” Harvey e Earl “Chinna” Smith na guitarra base. Ninguém se mexia, todos com os olhos pregados na figura magricela do outro lado do vidro. Sua cabeça esbelta jogava para trás e ondulantes guirlandas de uma espessa fumaça branca exalavam de suas largas narinas enquanto ele pleiteava devoção atemporal ao Jah Rastafári.
E enquanto ele cantava, a aguçada malha musical ficava cada vez mais alta, crescendo em espirais, num círculo estonteante de tensão e relaxamento, tensão e relaxamento, até o controle psíquico tornar-se insuportável. Gotas de suor surgiam na testa ampla do rosto barbudo de Family Man, e seu sor-riso nele estampado mostrava-se cada vez mais maníaco, quase grotesco.
Sem avisar, Marley girou de repente e explodiu em áspera exultação primal que retumbou pelo prédio como um maremoto. As estátuas escuras do outro lado do vidro, de um salto, voltaram à vida; começaram a pinotear e a arremeter em furioso abandono e logo a dançar de uma saleta para outra enquanto Marley mandava sua áspera voz de tenor nas maiores alturas:
The truth is an offense but not a sin!
A verdade é uma ofensa mas não um pecado!
ls he laugh last, is he ruho svin!
Quem ri por último é quem ganha!
ls a foolish dag barks at a flying bird!
O cão que ladra para um passarinho voando é bobo!
One sheep must learn to respect tbc shepherd!
Uma ovelha precisa aprender a respeitar o pastor!
Jah lives! Selassie lives, chill-drannn!
Jah vive! Selassié vive, crianças!
Jah lives! Jah-Jah lives!’
Jah vive! Jah-Jah vive!
O Jornal “Daily Gleaner” preconizava que Jah estava morto.
A forma esguia de Bob mal era visível à pouca luz emitida pelos escassos spots do estúdio de gravação de Harry J no número 10 da avenida Roosevelt em Kingston. Vestindo uma camisa de algodão marrom, calças de brim e requintadas botas de camurça, ele se postava de mãos nos quadris no meio do abarrotado estúdio de pé-direito alto. Uma delicada nuvem de fumaça subia de um spliff em sua mão, circundando-lhe a cabeça reclinada de onde pendiam os dreadlocks enquanto ele se concentrava. O relógio da parede marcava 10:30 de uma certa noite no mês de setembro de 1975.
As gravações para o disco Rastaman Vibration dos Wailers haviam sido deixadas de lado para permitir um projeto especial, de emergência. O engenheiro Sylvan Morris, um negro corpulento e solene, sentava-se envergado sobre a mesa de dezesseis canais no lado de lá do painel de vidro sujo que separava a cabine de controle do estúdio; ele pegou uma garrafa bojuda de Dragon e tomou um gole enquanto aguardava algum sinal para dar início à fita. Não se ouvia nada, exceto a deglutição de Sylvan, seguida de um arroto abafado.
Talvez tenham-se passado dois minutos até que Bob levantou a juba de Medusa. Ele colocou os fones de ouvido, deu uma tragada de encolher as bochechas no spliff e fez um aceno com a cabeça. Uma trilha instrumental que os Wailers tinham feito à tarde começou a jorrar dos gigantescos monitores pendurados acima da mesa de mixagem.
Havia um padrão de bateria, um baixo entorpecente pilotando a bateria, e uma guitarra rítmica em surdina. Bob deu um passo rápido em direção ao microfone e paralisou as dez pessoas que se amontoavam na cabine do engenheiro quando começou a cantar:
Selassie lives! Jah-Jah lives, children!
Selassié vive! Jah-Jah vive, crianças!
Jah lives! Jah-Jah lives!
Jah vive! Jah-Jah vive!
Fools sayin’ in dere beart,
Os tolos dizem de coração,
Rasta yar God is dead
Rasta, seu Deus está morto
But I&I know ever more
Mas eu, eu sei cada vez mais
Dreaded shall be dreaded and dread…’
Os dreads serão temidos e respeitados…
Os rostos de Family Man e Carly se congelaram num amplo sorriso beato que eles compartilharam com os outros presentes: Al Anderson; Lee Perry e sua esposa; Rita; Marcia Griffiths e sua amiga Judy Mowatt, ex-vocalista do grupo Gaylets e terceira integrante de um trio recém-formado chamado I-Threes – o novo grupo vocal de apoio dos Wailers; além de dois recentes acréscimos a estes, o organista Bernard “Touter” Harvey e Earl “Chinna” Smith na guitarra base. Ninguém se mexia, todos com os olhos pregados na figura magricela do outro lado do vidro. Sua cabeça esbelta jogava para trás e ondulantes guirlandas de uma espessa fumaça branca exalavam de suas largas narinas enquanto ele pleiteava devoção atemporal ao Jah Rastafári.
E enquanto ele cantava, a aguçada malha musical ficava cada vez mais alta, crescendo em espirais, num círculo estonteante de tensão e relaxamento, tensão e relaxamento, até o controle psíquico tornar-se insuportável. Gotas de suor surgiam na testa ampla do rosto barbudo de Family Man, e seu sor-riso nele estampado mostrava-se cada vez mais maníaco, quase grotesco.
Sem avisar, Marley girou de repente e explodiu em áspera exultação primal que retumbou pelo prédio como um maremoto. As estátuas escuras do outro lado do vidro, de um salto, voltaram à vida; começaram a pinotear e a arremeter em furioso abandono e logo a dançar de uma saleta para outra enquanto Marley mandava sua áspera voz de tenor nas maiores alturas:
The truth is an offense but not a sin!
A verdade é uma ofensa mas não um pecado!
ls he laugh last, is he ruho svin!
Quem ri por último é quem ganha!
ls a foolish dag barks at a flying bird!
O cão que ladra para um passarinho voando é bobo!
One sheep must learn to respect tbc shepherd!
Uma ovelha precisa aprender a respeitar o pastor!
Jah lives! Selassie lives, chill-drannn!
Jah vive! Selassié vive, crianças!
Jah lives! Jah-Jah lives!’
Jah vive! Jah-Jah vive!
Em uma semana, Jah Live estava em todas as lojas de discos de Kingston. Um sujeito do Daily Gleaner foi até o estúdio de Harry J para perguntar a Marley sobre o grande sucesso, e Bob lançou-lhe um olhar que quase fez parar o coração do repórter.
– Não se pode matar Deus – sussurrou Marley.
Um Feliz 2009, que Jah ilumine a todos!
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